Deus nos ama gratuitamente, como uma mãe

11/12/2014 16:08

Homilia do papa Francisco

Na Casa Santa Marta, o Santo Padre fala da ternura de Deus e diz que a graça não pode ser comercializada

Cidade do Vaticano, 11 de Dezembro de 2014 (Zenit.orgRedacao

Deus salva o seu povo não de longe, mas se aproximando com ternura, disse o papa Francisco na homilia da missa de hoje, celebrada na Casa Santa Marta. Deus é como uma mãe que nos ama gratuitamente, mas nós queremos com frequência controlar esta graça numa espécie de “contabilidade espiritual”.

Usando como referência o profeta Isaías, Francisco fez uma comparação: “É tanta a proximidade de Deus que Ele é como uma mãe, uma mamãe que conversa com seu filho: uma mãe quando canta para ninar o filhinho, adota a voz dele, se torna pequena como ele e fala com o tom dele, passando até por ridícula para quem não entende o que há de grandioso ali. Deus faz assim. É a ternura de Deus. Ele está tão perto de nós que se expressa com essa ternura: a ternura de uma mãe”.

Quando o filho “se deixa amar”, completou o papa, “esta é a graça de Deus”.

O Santo Padre observou que “nós, muitas vezes, para estar seguros, queremos controlar a graça. Na história e em nossa vida, temos a tentação de comercializar a graça, como uma mercadoria ou uma coisa controlável”, talvez para dizer a nós mesmos: “Eu tenho a alma limpa, eu estou em graça”.

O papa alertou: “Esta verdade tão bonita pode resvalar numa contabilidade espiritual: ‘Eu faço isto porque isto me dará 300 dias de graça… Eu faço isto porque me dará isto, e assim acumulo graças’. Na história, esta proximidade entre Deus e o seu povo foi traída por esta nossa atitude egoísta, de querer controlar a graça, comercializá-la”. 

No tempo de Jesus, havia grupos que queriam controlar a graça, recordou o papa: os fariseus, escravos das muitas leis que eles impunham às costas do povo; os saduceus, com seus compromissos políticos; os essênios, bons, ótimos, mas que tinham muito medo, não arriscavam e acabavam se isolando nos seus mosteiros; os zelotes, para quem a graça de Deus era a guerra da libertação, outra maneira de comercializar a graça.

“A graça de Deus é outra coisa: é proximidade, é ternura. Esta regra é sempre válida. Se, na relação com nosso Senhor, você não sente que Ele o ama com ternura, ainda falta algo, você ainda não entendeu o que é a graça, ainda não recebeu a graça que está próxima”.

O bispo de Roma mencionou uma confissão que ouviu há muitos anos, de uma mulher que se angustiava em dúvidas sobre a validade de uma missa a que tinha assistido num sábado à tarde com leituras diferentes das do domingo. Bergoglio lhe respondeu: “Nosso Senhor a ama muito. Você foi lá, recebeu a comunhão, esteve com Jesus... Fique tranquila, nosso Senhor não é um comerciante, nosso Senhor a ama e está sempre perto”.

Ao finalizar, o papa recordou que “São Paulo reage com força diante dessa espiritualidade da lei. ‘Eu sou justo se faço isto, isto, isto. Se não faço isto, não sou justo’. Mas você é justo porque Deus veio até você, porque Deus o acaricia, porque Deus lhe diz estas coisas bonitas com ternura: esta é a nossa justiça, esta proximidade de Deus, esta ternura, este amor. Mesmo com o risco de parecer ridículo, nosso Deus é muito bom. Se tivéssemos a valentia de abrir o nosso coração para esta ternura de Deus, quanta liberdade espiritual teríamos! Quanta!”.

Por último, o Santo Padre nos convidou a ler Isaías, capítulo 41, de 13 a 20, sobre “esta ternura de Deus, deste Deus que canta para cada um de nós, que nos nina como uma mãe”.